A Comunidade Intermunicipal do Alto Alentejo (CIMAA) participou entre os dias 26 e 27 de janeiro na IV Energy & Climate Summit, que teve lugar em Évora, no Auditório da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo.
Organizada pelo projeto Guardiões, esta edição foi dedicada à mobilidade e ao transporte ferroviário enquanto eixos fundamentais para se pensar um futuro sustentável, vantajoso para os territórios – tanto os de elevada densidade como os de baixa densidade populacional – e que permita atenuar as assimetrias sociais, económicas e de oportunidades entre os vários territórios de cada país.
À semelhança daquilo que aconteceu nas três cimeiras anteriores, todas elas organizadas e promovidas pelo Projeto Guardiões, também esta se caracterizou por um saudável encontro entre técnicos e investigadores especializados e responsáveis políticos locais e nacionais que tutelam os transportes e o ordenamento territorial nas suas áreas de atuação.
O primeiro dia ficou marcado pela presença do Secretário de Estado das Infraestruturas de Portugal, Frederico Francisco, que enfatizou a necessidade de alterar a estrutura do setor da mobilidade e dos transportes, referindo ser fundamental promover a transferência modal para modos de transporte mais sustentáveis, o que implica, necessariamente, a transferência modal do automóvel para os modos suaves e para a ferrovia.
De seguida, Ana Paula Vitorino, Presidente da Autoridade da Mobilidade e dos Transportes, aproveitou esta oportunidade para abordar e apresentar sumariamente a Estratégia da Mobilidade e do Transporte Ferroviário no âmbito da Transição Digital, Ambiental e Energética, enfatizando que, apesar dos objetivos internacionais que foram estabelecidos com vista à redução das emissões de gases de estufa, o setor dos transportes aumentou cerca de 30% das suas emissões de gases de estufa nas últimas 3 décadas, sendo que 72% das emissões deste setor são resultantes do transporte rodoviário.
Ainda durante a manhã, a jornalista Alberta Marques Fernandes moderou um painel dedicado à mobilidade e ao novo desenho das cidades, que contou com a presença, entre outros, do Presidente do Metro do Porto, Tiago Braga, e do Alcaide da cidade espanhola de Pontevedra, Miguel Anxo Lores.
A participação de Miguel Anxo Lores foi, de resto, um dos momentos de maior destaque de toda a cimeira. Num painel que procurou apresentar exemplos, em diferentes geografias de cidades e regiões que estão a encetar estratégias para tornar as suas cidades mais próximas, caminhando para a neutralidade carbónica no setor da mobilidade e dos transportes.
O alcaide de Pontevedra explicou como conseguiu que a cidade se tornasse em exemplo internacional de cidade sustentável. Através do ordenamento do espaço público, a cidade foi capaz de priorizar as pessoas em detrimento do automóvel e, com isso, conseguiu resultados significativos na melhoria da qualidade de vida da sua população em várias dimensões: a qualidade do ar apresenta melhorias todos os anos, a redução drástica das emissões de CO2 per capita, o aumento da população local num contexto histórico de recessão demográfica, e algo que atualmente todas as cidades do mundo procuram atingir: nenhuma morte relacionada a acidentes rodoviários nos últimos 13 anos.
No segundo e último dia da cimeira, a 27 de janeiro, um quarto painel questionou os participantes sobre se “Precisamos de mais transporte público?”, apontado para o facto cada vez mais comprovado de que uma rede integrada, competente e abrangente, depende sobretudo de uma boa capacidade de planeamento, da compreensão dos fluxos e necessidades de deslocação das populações, da ligação intermodal entre regiões, de uma boa utilização dos recursos existentes e, finalmente, da adoção de modos de transportes mais seguros, eficientes, acessíveis e promotores da qualidade de vida das pessoas.
A IV Energy & Climate Summit terminou com as conclusões retiradas ao longo de dois dias de intenso debate e com uma sessão de encerramento marcada pelas intervenções de Ricardo Campos, Presidente do Fórum de Energia e Clima, Luís Loures, Presidente do Politécnico de Portalegre e António Ceia da Silva, Presidente da CCDR Alentejo, que encerrou a cessão destacando a importância da ferrovia para a coesão territorial e para o desenvolvimento económico, por esta facilitar a ligação entre lugares e pessoas, referindo ainda o caso particular do distrito de Portalegre, designadamente a falta de acessibilidade ferroviária que a capital de distrito atualmente ainda possui, com uma estação de comboio que dista a mais de 12km do centro da cidade e a necessidade de investimento na Linha do Leste durante a próxima década.